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O indivíduo, na vida ordinária, ao se confrontar com a vida, precisa lê-la; no entanto, na realidade, é ela que o lê. É, na leitura, portanto, que se chega a uma seara, por onde o ser humano, em seu engodo narcísico, ainda não perambulou; trata-se do cerne da vida humana e o núcleo de onde advém Tudo – o inconsciente. A descoberta deste, a partir dos escritos seminais de Sigmund Freud, foram, por um lado, misteres para o entendimento psíquico das idiossincrasias, ora latentes ora extravagantes, dos sujeitos sociais, assim como de personagens de narrativas literárias. Por outro lado, deformou o que se tinha por verdadeiro, dogmático e preceituoso.
Ler a Cultura, à luz da psicanálise, entrementes, é conduzir, assim como num setting analítico, o cotidiano e a privacidade no divã, de cujas associações livres irrompem-se, também, atos falhos, chistes, sintomas, sonhos, reminiscências infantis, entre outros movimentos da clínica. Não se leva aos analisandos, conceitos predefinidos, mas sim: permitem a eles liberdade e autonomia, ou seja, clinicar sobre a vida é se despojar de preconceitos, pressupostos e rótulos categóricos. O sujeito que está na cena narrativa, doravante, discursa livremente e, através de seus (des)equilíbrios exegéticos, verborragias delirantes e/ou silêncios ensurdecedores, elabora as cosmovisões, diagnósticos e, amiúde, torna possível ao outro atravessar os locais mais insalubres de sua mente, depurando-a.
As fantasmagorias que vagam, errantemente, pelas paisagens neuróticas, e as psicopatologias terríficas que, à primeira vista, são perturbadoras e causticantes, são, verdadeiramente, eventos cirúrgicos que dissecam a humanidade, fazendo-a remontar às suas primevas estações. No diálogo cultura-psicanálise, pode-se supor que, quem analisa é, subversivamente, o analisado. E, ainda, os protagonistas podem se valer de vestes simbólicas e andrajos para conduzir todos ao si-mesmo.
Aqui, deparamo-nos, segundo profusas cosmogonias, com o princípio e o fim, o Alfa e o Ômega: a fala, a linguagem. Partindo dela, por exemplo, muitos mundos mitológicos se construíram e, ulteriormente, destruíram. E, de forma arquetípica e antropofágica às cosmogonias, o ser humano, a partir da linguagem, edifica-se e se desmorona. Em conclusão, no princípio, era o Verbo que se fez carne; era o Verbo que se fez langue; era Verbo que se fez parole; era inconsciente que se fez Verbo.
Texto acima extraído do prefácio escrito por: Guilherme Ewerton Alves de Assis.